quinta-feira, 6 de março de 2008

A monotonia da desgraça


A ambulância pára a vida com a sirene
Presidiário mata o carcereiro desconhecido
Assaltante antes do disparo treme
Seu vizinho te ofende por ter bebido
O cachorro agoniza num belo jardim
Indigente vive na sala das marquises
A fome ronca na prostituta
Crianças na favela são juízes

Crentes distribuindo senhas pro céu
Índios virando camelôs de sua arte
O açúcar do soro queimando em mel
Padre aidético cobrindo a parte
O barro do favelado no tapete da loja
O asfalto dos carros sujo de sangue
O olhar da elite que enoja
E jovens sem pais formam gangues.

Não deixe o silêncio dentro do real;
A fantasia do bem é a carne do mal.